O CEO da Transbrasa, Bayard Umbuzeiro Neto, participou nesta sexta-feira (19) do Fórum Conexão Porto Indústria, realizado pela TV Record Litoral. O evento promoveu discussões estratégicas sobre o futuro do Porto de Santos, desde a demanda dos navios de passageiros até os desafios do rearranjo portuário.
No painel “Oportunidades com o novo terminal de passageiros”, Bayard falou sobre o projeto Santos + Vivo, uma proposta da empresa para construção de um empreendimento turístico e marítimo, localizado na Ponta da Praia. “A intenção é complementar a estrutura atual, já pensando na demanda que teremos daqui 10 anos. Obras de infraestrutura precisam de planejamento de longo prazo. Atualmente temos um único berço para navios de cruzeiros e vamos ter três, com a mudança do Concais para o Valongo, mas até 2035 essa estrutura já não vai ser suficiente. Precisamos pensar hoje em um projeto que complete esse sistema atual para atender às projeções futuras”, destacou.
A CLIA (Cruise Lines International Association), entidade que reúne empresas dos segmentos marítimo, fluvial, portos, destinos e agências especializadas, projeta um crescimento de 8% no número de cruzeiristas em 2026. E a perspectiva para os próximos anos é de continuidade na expansão: 81 novos navios serão entregues até 2036, com investimentos que ultrapassam US$ 70 bilhões.
Marco Ferraz, presidente da Clia no Brasil e na América do Sul, corroborou com a urgência de planejamento. “Em 2023, o Brasil recebeu um número recorde de cruzeiristas. Foram 838 mil pessoas que desembarcaram por aqui. Mas esse número precisa de infraestrutura para crescer. Na próxima temporada, a América Latina vai receber 90 navios, mas apenas 21 vão passar no Brasil”, contou.
O presidente executivo da Costa Cruzeiros, Dario Rustico, alertou que as companhias já estão fazendo seus calendários para a temporada 2029/2030. “Então o que sobra para o Brasil se nós só agimos a curto prazo?”, questionou.
Para se ter idéia da importância da indústria de cruzeiros, só na temporada 2023/2024 o setor injetou R$ 5,2 bilhões na economia brasileira e gerou mais de 80 mil empregos. Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cada R$ 1 investido pelo setor foram movimentados R$ 4,22 na economia nacional.
Ainda de acordo com os dados, nas cidades de escala, cada cruzeirista gerou um impacto econômico direto, indireto e induzido de R$ 668,91, enquanto nas cidades de embarque e desembarque esse valor foi de R$ 877,01.
A preocupação do Governo de São Paulo e da Federação do Comércio do Estado é justamente fazer com que esses turistas fiquem no Litoral e consumam mais produtos e serviços locais. “ Infelizmente, o porto de Santos é apenas ponto de embarque e desembarque. Nós temos que ampliar, ter atrativos para que estes cruzeiristas se hospedem nos nossos hotéis e estendam suas estadias”, defendeu Rubens Torres Medrano, vice-presidente da Fecomércio-SP.
“Dos oito municípios do litoral paulista, sete possuem grande potencial turístico. Para a atual temporada, nossa expectativa é receber 390 mil passageiros em Santos. O Governo do Estado tem se comprometido a investir na infraestrutura de mobilidade, aguardando a consolidação da estrutura portuária existente para termos capacidade de receber mais pessoas”, completou o secretário estadual de turismo, Roberto de Luceno.
Além de prejudicar o setor de turismo, a falta de berços de atracação exclusivos para navios de cruzeiro impacta diretamente na movimentação de cargas pelo porto santista. Segundo a FGV, de 2010 a 2023, quase metade das embarcações de turismo usaram berços de carga e não o terminal específico de passageiros.
“Precisamos de um marco regulatório para que o Brasil se estruture para atender este mercado de cruzeiristas, que cresce constantemente. Mas, para atrair novos players, precisamos investir em infraestrutura, segurança jurídica e menores custos de operação”, finalizou o CEO da Transbrasa.
PROJETO: O Santos + Vivo prevê a construção de um waterfront (à beira-mar) que se estenderá em paralelo ao canal de navegação do Porto de Santos, como se fosse uma ilha artificial a ser implantada no bairro da Ponta da Praia.
Em toda a estrutura serão instalados três berços de atracação para navios de cruzeiros, o terminal de passageiros, uma marina, um centro de convenções, um hotel, um shopping center e um prédio com escritórios. Os investimentos privados são da ordem de R$ 1,2 bilhão.
