Apesar do cenário externo, governo mantém previsão otimista do PIB
O Ministério da Economia anunciou nesta quarta-feira (11/3) a revisão 2,4% para 2,1% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto em 2020, mas admite que pode cair a 1,9% com o impacto do novo coronavírus. As estimativas da pasta, em função do avanço da epidemia no país, indicam uma perda de 0,3 a 0,5 ponto percentual na expansão do PIB deste ano. As perspectivas de inflação da pasta passaram de 3,62% para 3,12%, mas as estimativas mais recentes apontam uma alta de 2,5% no custo de vida, devido à desaceleração na atividade neste início de ano.
Apesar de o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, tentar argumentar que as previsões estão “em linha” com as expectativas do mercado, os dados compilados pela Secretaria de Política Econômica (SPE) deixaram os analistas ressabiados. Analistas ouvidos pelo Correio admitem que 1,5% passou a ser o teto, mas o risco de uma nova recessão no país não está descartado.
Ao apresentarem os números, os técnicos da equipe econômica tentaram minimizar a crise e reforçam a necessidade de avanço na agenda reformista. “As reformas que serão enviadas (ao Congresso) constituem o pilar básico para termos uma resposta à altura e a contento para choques exógenos, bem como desafios internos da nossa economia”, afirmou Waldery.
Mas os novos dados apresentados pela equipe econômica não levaram em consideração a recente alta do dólar, que rompeu o patamar de R$ 4,70, e, muito menos, a forte queda no preço do barril de petróleo, que está sendo negociado em torno de US$ 30. Nos parâmetros utilizados pela SPE, foram considerados o preço do barril a US$ 52,70 e o câmbio a R$ 4,22. Essas projeções são consideradas otimistas e defasadas pelos analistas.
Nova realidade
A realidade mudou e o governo vai ter que tomar medidas que vão além das reformas –– e se o Executivo continuar em cabo de guerra com o Congresso, o retrocesso pode ser grande. Como a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou ontem pandemia de coronavírus, a tendência, daqui para frente, é de desaceleração da economia global, com vários países entrando em recessão.
“Estamos recebendo os dados e o viés agora (do PIB brasileiro) é de baixa”, avisou a economista Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. Ela reduziu de 2,2% para 1,8%, a estimativa de alta do PIB neste ano, mas reconhece que poderá, em breve, diminuí-la ainda mais.
“A projeção de 2,1% do governo é otimista em relação ao mercado financeiro, que está vendo a confiança caindo. Além da crise externa, que tem impacto direto na produção e que já tem um impacto na curva de juros futuros, que está subindo”, destacou. Para ela, a frustração de receita do governo será grande com os parâmetros utilizados e, portanto, “o contingenciamento do Orçamento será inevitável”.
As previsões de crescimento do PIB abaixo de 1,5% estão aumentando. Ontem, foi a vez de o banco suíço UBS reduzir a estimativa para a economia brasileira, de 2,1% para 1,3%, mesma taxa prevista pela consultoria britânica Capital Economics, de 1,3%.
A economista Monica De Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), de Washington, faz um alerta para a crise que está se desenhando nesse cenário e prevê retração de 0,5% no PIB este ano. “O país vai ter uma recessão contratada que poderá ser bem pior do que a de 2008. A equipe econômica não está entendendo a gravidade da situação, porque estamos falando de uma doença que pode ter um impacto em projeção geométrica, e não linear, como muitos economistas estão estimando. Essa crise não é igual a nenhuma outra que o país enfrentou. É muito pior”, salientou.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro também não poupou críticas às estimativas do governo, sobretudo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por afirmar que a economia “está acelerando”, enquanto o mundo está desacelerando. “Ele está fora da realidade. O país tem fábricas parando a produção, e outras devem parar, porque estamos presenciando um choque de oferta brutal”, afirmou. Para ele, o PIB pode crescer menos de 1% neste ano.
Fonte: Correio Braziliense On-line