O destino de nossas exportações

Publicado por Transbrasa
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A balança comercial brasileira registrou em 2018 superávit de US$ 58,3 bilhões, que, embora 13% menor do que o do ano anterior, é suficientemente robusto para, junto com a entrada líquida de investimentos estrangeiros diretos, assegurar a tranquilidade das contas externas do País. Os números divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram um setor exportador vigoroso, que conseguiu ampliar suas vendas em 9,6% na comparação com 2017. Os dados do comércio exterior também refletem a recuperação da atividade econômica, que resultou no aumento de 20,2% das importações.

Para membros do governo Bolsonaro responsáveis pela área de comércio exterior e pelas relações do Brasil com os demais países, mais instrutivo do que esses grandes números da balança comercial talvez seja o exame dos principais destinos dos produtos brasileiros.

Em seu discurso de posse, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assegurou que “o Itamaraty terá, a partir de agora, o perfil mais elevado e mais engajado que jamais teve na promoção do agronegócio, dos investimentos e da tecnologia” e que “estaremos junto com o setor produtivo nacional, como nunca estivemos”. Para isso, no entanto, o chanceler terá de separar algumas de suas admirações pessoais, expostas em seu discurso, bem como certas preferências manifestadas pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, dos interesses do setor exportador.

A China, cuja presença crescente entre os grandes investidores no País levou o então candidato à Presidência a dizer que os chineses “não estão comprando no Brasil; estão comprando o Brasil”, aumentou seu peso como o maior comprador de produtos brasileiros. No ano passado, com compras de US$ 66,6 bilhões, a China aumentou em 32,7% suas importações de produtos originários do Brasil (em 2017, importara US$ 50,2 bilhões). Já era o principal destino das exportações brasileiras, respondendo por 23,0% de tudo o que o Brasil vendeu lá fora em 2017, e ampliou para 27,8% sua fatia como maior mercado para os exportadores brasileiros.

Como presidente eleito, Bolsonaro buscou aproximação com o governo de Israel e anunciou sua intenção de transferir a sede da Embaixada brasileira naquele país para Jerusalém, imitando o governo norte-americano. O ministro Ernesto Araújo, de sua parte, declarou que Israel merece sua admiração, pois “nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo”.

Manifestações explícitas de membros do governo Bolsonaro de admiração por Israel podem provocar reações em países árabes e levar a restrições à entrada de produtos brasileiros nesses países. Eventuais ganhos comerciais decorrentes da maior aproximação com Israel não serão suficientes para compensar as perdas com o comércio com o mundo árabe. Pelo menos é o que sugerem os números sobre o destino das exportações brasileiras.

A lista de países árabes ou adversários declarados de Israel que importam produtos brasileiros é extensa. Mas alguns exemplos bastam para ilustrar sua importância no comércio exterior do País. Até novembro de 2018, último mês para o qual já há dados desagregados por países, as exportações brasileiras para o Irã tinham alcançado US$ 2,15 bilhões; para o Egito, US$ 2,0 bilhões; para a Arábia Saudita, US$ 1,9 bilhão; para os Emirados Árabes Unidos, US$ 1,83 bilhão; e para Omã, US$ 614 milhões. Para Israel, no mesmo período, o Brasil havia exportado US$ 293 milhões – menos do que para Cuba (US$ 321 milhões).

Também como merecedores de sua admiração, pela eleição de governantes com os quais o atual governo brasileiro diz ter afinidades ideológicas, o ministro das Relações Exteriores citou Itália, Hungria e Polônia. A Itália é tradicionalmente um dos principais destinos das exportações brasileiras. Nos primeiros 11 meses do ano passado, importou US$ 3,24 bilhões de produtos originários do Brasil. Já as exportações para a Polônia somaram US$ 760 milhões e para a Hungria, US$ 104 milhões.

Fonte: Estadão On-line

Imagem: Grupo Open Trade