Para exportadores, câmbio melhora ganhos, mas não eleva embarques

Publicado por Transbrasa
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A alta do dólar por conta da divulgação das notícias sobre as gravações envolvendo o presidente Michel Temer gerou maior rentabilidade nas exportações para os casos de empresas que fecharam o câmbio nos dias em que a moeda nacional se desvalorizou.

Na quinta-feira, dia seguinte à divulgação das primeiras notícias sobre as gravações, o dólar fechou a R$ 3,389. Na sexta, já com movimento de valorização do real, a moeda fechou em R$ 3,257. Ontem terminou o dia em R$ 3,276. Para empresas como Metalplan e Randon Implementos, a preocupação maior é com o quadro político e seu efeito sobre a economia. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que a valorização do dólar da semana passada não deve fazer diferença para a balança comercial.

Para ele, o efeito do dólar será na rentabilidade do exportador, no caso de quem fez a conversão do dólar para a moeda nacional nesse período. A alta do dólar chega num período em que o exportador tem perdido rentabilidade principalmente por conta da valorização do real. No primeiro trimestre o índice de rentabilidade na exportação caiu 6,4% em relação a igual período do ano passado. A alta de 22,4% nos preços de exportação não foi capaz de compensar a valorização cambial de 19,6% e a elevação de 5,1% no custo de produção, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior(Funcex).

No acumulado de janeiro a abril, segundo a associação, os embarques de calçados brasileiros caíram 1,5% em volume e avançaram 14,4% em valor contra igual período de 2016. Esses embarques, porém, diz Klein, foram resultado de vendas da coleção primavera-verão negociadas entre agosto e setembro do ano passado. Os próximos embarques são da coleção outono-inverno, mas as expectativas não são boas porque as negociações de contratos em janeiro e fevereiro foram relativamente fracas, conta. “Nesse período o real já estava valorizado e por isso os negócios fechados ficaram muito abaixo aos do ano anterior. A tendência é de que em junho, julho e agosto tenhamos um buraco nos embarques em relação ao que foi na última temporada.” Daniel Randon, vice-presidente de administração e finanças da Randon Implementos e Participações, diz que a empresa aproveitou o pico do dólar na semana passada para fechar operações de câmbio relativas a exportações, mas essa, explica, é uma questão pontual. “O que mais preocupa é a economia como um todo.” Randon diz que a sensação que se tem hoje é de que a economia chegou ao fundo do poço e há possibilidade de se crescer este ano, mesmo com dificuldade. Para isso, porém, diz ele, é preciso haver perspectiva de se fazer a reforma previdenciária e trabalhistas, de se manter a queda de juros e de que o programa de concessões aconteça, trazendo investimento em infraestrutura e maior competitividade. “Se não for resolvida logo, essa turbulência pode adiar alguns investimentos e afetar o PIB.” A exportação, diz Randon, é vista dentro de um plano de longo prazo e, por isso, não depende apenas do dólar

No primeiro trimestre, diz ele, o resultado consolidado somando exportações e receitas geradas no exterior praticamente empataram com o de igual período do ano passado. Edgard Dutra, diretor da Metalplan, diz que dentro do nível atual de incerteza e por conta da alta volatilidade, a alta do dólar “não gera nada”. Ele conta que os contratos de exportação da semana passada foram fechados na segunda e na terça. Ou seja, antes de quarta, quando foram divulgadas as primeiras notícias sobre as gravações envolvendo Temer. Se tivesse fechado os contratos na quinta ou na sexta, já com os efeitos das notícias sobre o mercado de câmbio, diz ele, as condições dos contratos não teriam mudado. Dutra diz que defende hoje um câmbio na casa de R$ 3,80. Para ele, esse nível não geraria inflação e permitiria equilibrar o efeito do dólar nas importações e exportações. Por enquanto, diz ele, com real valorizado, o que se faz é o “feijão com arroz” na exportação. A ideia é vender focando mais nos produtos e seus diferenciais e menos no preço.

Segundo ele, os embarques representaram cerca de 12% das receitas da empresa de janeiro a abril deste ano. Em iguais meses de 2016 a fatia foi de 15%. No total das receitas, conta, o crescimento foi de 20%, mas a alta acontece por conta da baixa base de comparação. De janeiro de 2014 para fim de 2015, a empresa perdeu 35% em receitas. No ano passado a receita empatou com a de 2015.

Fonte: Valor Online