Para economistas, PIB do 2º trimestre cresceu apenas 0,1%

Publicado por Transbrasa
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Num período conturbado pela greve dos caminhoneiros, o crescimento da atividade econômica do país ficou muito próximo de zero no segundo trimestre, quando comparado ao primeiro, que também foi fraco. A média das estimativas de 23 consultorias e instituições financeiras para o Produto Interno Bruto (PIB) do período é de avanço de apenas 0,1%. Se realizado, o resultado ficará abaixo da alta de 0,4% entre janeiro e março, em relação ao quarto trimestre de 2017, uma taxa que já foi frustrante, dado que no início do ano as expectativas para esse período giravam em torno de 1%.

O PIB de abril a junho será divulgado na próxima sexta-feira, dia 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A paralisação dos condutores – que durou 11 dias em maio – teve efeito relevante sobre a economia, mas não foi suficiente para fazer com que o PIB recuasse nos três meses encerrados em junho, afirma Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e política da Tendências Consultoria. O aumento no nível de atividade do setor agropecuário e do de serviços, calcula, mais do que compensou o tombo do segmento industrial. Para a Tendências, o PIB subiu 0,2% de abril a junho na comparação com os três primeiros do ano, feitos os ajustes sazonais.

Nos cálculos da consultoria, o PIB do agronegócio cresceu 0,4% entre o primeiro e o segundo trimestre, mesma alta esperada para o ramo dos serviços, que não foram tão afetados pela greve devido à influência positiva do comércio varejista e, em menor grau, a algum aquecimento no setor público, que tem feito mais contratações no período recente.

Alessandra lembra que, do primeiro para o segundo trimestre, o volume de vendas do varejo ampliado – que inclui os setores de automóveis e material de construção e é a principal ‘proxy’ para o desempenho do comércio dentro do PIB – avançou 0,2%. “O comércio, apesar do choque de confiança e da perda de dinamismo do mercado de trabalho, acabou se segurando”, disse. Essa resistência é relacionada, principalmente, à retomada nas concessões de crédito para famílias. “É uma boa notícia diante de tudo que vimos neste ano.”

O PIB industrial, por outro lado, foi o que mais sofreu os efeitos do bloqueio nas estradas e não teve nenhum vetor positivo para amortecer a queda do setor de transformação, estimada em -1,4% para o segundo trimestre, observa a economista. Na média, a expectativa é de redução de 0,8% da indústria, mesmo recuo esperado para o PIB da construção civil em igual intervalo. Nas Contas Nacionais, a construção engloba a atividade industrial.

Para a economista da Tendências, a construção civil é a grande frustração em relação à atividade econômica no trimestre e no ano. De abril a junho, o desempenho ruim do setor afetou negativamente a indústria e, pelo lado da demanda, os investimentos. A consultoria estima queda de 1,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e investimentos). Do primeiro para o segundo trimestre, o consumo doméstico de máquinas e equipamentos ficou 6,1% maior, mas a alta não foi suficiente para compensar o tombo de 4% da produção de insumos típicos da construção em igual comparação. Para as outras linhas da demanda no PIB, a Tendências estima aumento de 0,5% no consumo das famílias e de 0,3% no do governo. “Houve uma abertura de espaço dentro do teto para que os gastos cresçam um pouco”, afirma.

A MCM Consultores também prevê um fraco desempenho para o setor industrial, o que a fez revisar para baixo a estimativa para o PIB do segundo trimestre, de alta de 0,5% para 0,3%, em relação ao primeiro. Para a MCM, o PIB industrial caiu 0,6% no período, enquanto o do agropecuário e o de serviços cresceram 0,1% e 0,5% em relação ao primeiro trimestre, respectivamente.

Pela ótica da demanda, todas as aberturas das Contas Nacionais foram cortadas pela MCM na nova projeção do PIB. O pior desempenho, deve ser observado nos investimentos, que devem ter caído 2% na passagem trimestral. “Houve desaceleração tanto do consumo aparente de bens de capital como da produção dos insumos típicos da construção civil no trimestre”, explicam os economistas da casa.

Para o consumo das famílias, a MCM está menos otimista e estima aumento de apenas 0,1% do primeiro para o segundo trimestre, enquanto os gastos do governo devem ter subido 0,2%. No setor externo, os economistas da consultoria projetam retração de 5% das exportações, e queda de 2,9% das importações.

Na ponta mais pessimista das estimativas para o PIB do segundo trimestre, a MB Associados projeta uma queda de 0,2% para a atividade em relação ao primeiro trimestre. Em relação ao segundo trimestre de 2017, a estimativa é de avanço de apenas 1,1%. Antes da greve dos caminhoneiros, a previsão da consultoria era de um crescimento entre 0,7% e 0,8%. “Uma queda de 0,2%, dado o tamanho da crise [gerada pela paralisação] até que não foi um preço tão alto a se pagar”, avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB. Para o segundo trimestre, em relação a igual período de 2017, o economista estima alta de 1,1% para a indústria, 1% para os serviços e 1,2% para o setor agropecuário. Na demanda, o consumo das famílias deve ter crescido 1,9%, os investimentos 1,7% e o consumo do governo recuou 1,4%. O setor externo, diz, deu contribuição negativa para o PIB do período.

Fonte: Valor Econômico

Imagem: R7